TAG/Parte 03 – Assumindo o controle, LIMITE.
Limites
Não estou exagerando? Qual o limite entre o que realmente é sintoma e o que é “normal”?
Já me policiei muito nesses dois anos de terapia. Um dos temas mais recorrentes neste ciclo é saber distinguir com o que realmente devo me preocupar ou o que faz parte de uma “normalidade” do ser humano. Até julgamento de algum valor de terceiros, que é pior ainda, quando consideramos que isso não nos pertence, não temos ação. Como não bastasse os meus problemas, entrar nos problemas de terceiros, do qual não tenho o que fazer me consumia uma energia enorme. Vou entrar nestes detalhes em outro texto, mais adiante, aguardem… Voltando, não é fácil e cada indivíduo tem sua maneira de ver o mundo. O que escrevo aqui são minhas percepções, que pode parecer certo ou errado de acordo com quem lê.
A minha ignorância inicial sempre foi pensar que o que eu sentia não era relevante. Os sintomas da ansiedade se fundiram a minha rotina e, ao analisar, não sabia distinguir. Primeiro passo é separar o joio do trigo e impor limites. Escrever ajudou muito, porque quando eu passava da mente para o papel, tudo ficava mais claro. Passei por momentos de escrever e apagar, porque comecei a enxergar o limite. Logo comecei a perceber mais claramente os sintomas. Mais uma vez: não é fácil. Exige disciplina e força de vontade e todo dia é um novo dia. Frases démodés, mas valem muito na jornada. Humildade para aprender e vontade de mudar.
Um exemplo no meu trabalho: o telefone da minha mesa toca. Ligação externa da nossa matriz. Rotina diária, mas com muitos sintomas. Nos instantes que precediam o atender do fone: pensamento acelerado, coisas muito ruins na mente, revisão de números e números, a certeza do erro, imaginação de diálogos e conflitos, negatividade, uma ponta de desespero. Durante a ligação: suor, mãos na cabeça, o tempo todo tentando manter a concentração, desconstrução do que erroneamente construí para tentar entende o que a pessoa do outro lado queria, sempre na defensiva. Ao desligar: cansaço físico e mental, frustração, pernas inquietas, críticas e mais críticas (julgamento de valor de terceiros). Mais ou menos assim os sintomas aconteciam. Cada momento com sua fase aguda e muitas vezes vinham com um brinde: culpa. Seja por uma palavra mal colocada no calor da conversa, seja por não entender o que a pessoa do outro lado falou, pelo simples fato de fazer uma enorme confusão da realidade com o imaginário. Isso sempre foi comum, nunca imaginei que poderia tratar estes sintomas simplesmente por não saber que eram sintomas. Não sei se fui claro até aqui, mas o meu objetivo é alertar para que não sejamos tão ignorantes emocionais ao ponto de achar todo este caos normal.
Quando percebi que o que sentia não era para fazer parte do meu dia a dia, primeiro veio a incredibilidade. Confesso não conseguir digerir isso no início, afinal trabalho em uma grande empresa com diversas interfaces e com grandes responsabilidades. Não era para ser fácil, então me confortava aceitar isso como o ônus da minha profissão. O erro foi ter aceitado isso por muito tempo sem me aprofundar e sem perceber que precisava de ajuda. Já tinha chegado há muito tempo no meu LIMITE.
A terapia entrou para me ajudar a identificar sintomas e me ensinar a lidar com essas “ondas”. Comecei a perceber que minha vida poderia ser mais fácil e sem precisar me culpar por isso. Os sintomas são fisiológicos e muitos não somem, mas o policiamento ajuda a não perder o controle. Aos poucos fui percebendo que a pessoa do outro lado do telefone também tem seus problemas, suas dificuldades. Que todos nós estamos no mesmo barco e que nem sempre vou atender as expectativas dela e ela as minhas. Não prejulgar alguém antes de escutá-la ajuda e evita fadiga mental desnecessária.
“Não pode ser… esse suor é normal. Essa dor de cabeça, frio na barriga, pressão no peito não são nada…” não sofra a toa: procure ajuda.
O meu próximo texto tratará de um assunto muito pessoal e delicado, que vou abrir aqui no blog para os leitores: a gota d’água para procurar ajuda. Nunca falei disso para ninguém, além da minha esposa e meu terapeuta. É extremamente pessoal e carrega um tabu imenso no universo masculino. Aguardem…
Até a próxima…